domingo, 18 de novembro de 2007

e o tempo passa, e os dados à rolar....

SOBERBO II
ou
Ressuscita!

A felicidade é uma coisa soberba.
Tanto,
que parece que vou explodir
em gritos
de gozos
e risos

a cada minuto
que olho seus olhos
luzes
vislumbres
faróis
estrada
mata
rajada
futuro


Claro enigma,
agua de olhar
beber
afogar

Simples misterio do seu olhar
pra quê desvendar?

Novembro ensolarado, 2007

À PRIMEIRA VISTA (e eu naum acreditava)

Chico César

Quando me chamou, eu vim
Quando dei por mim, tava aqui
Quando lhe achei, me perdi
Quando vi você... me apaixonei

domingo, 7 de outubro de 2007

"Embriagada. Interdita. Ama-me"

Este poema vem à calhar

Alcoólicas
de Hilda Hilst

É crua a vida. Alça de tripa e metal.
Nela despenco: pedra mórula ferida.
É crua e dura a vida. Como um naco de víbora.
Como-a no livor da língua
Tinta, lavo-te os antebraços, Vida, lavo-me
No estreito-pouco
Do meu corpo, lavo as vigas dos ossos, minha vida
Tua unha plúmbea, meu casaco rosso.
E perambulamos de coturno pela rua
Rubras, góticas, altas de corpo e copos.
A vida é crua. Faminta como o bico dos corvos.
E pode ser tão generosa e mítica: arroio, lágrima
Olho d'água, bebida. A Vida é líquida.
(Alcoólicas - I)

* * *

Também são cruas e duras as palavras e as caras
Antes de nos sentarmos à mesa, tu e eu, Vida
Diante do coruscante ouro da bebida. Aos poucos
Vão se fazendo remansos, lentilhas d'água, diamantes
Sobre os insultos do passado e do agora. Aos poucos
Somos duas senhoras, encharcadas de riso, rosadas
De um amora, um que entrevi no teu hálito, amigo
Quando me permitiste o paraíso. O sinistro das horas
Vai se fazendo tempo de conquista. Langor e sofrimento
Vão se fazendo olvido. Depois deitadas, a morte
É um rei que nos visita e nos cobre de mirra.
Sussurras: ah, a vida é líquida.
(Alcoólicas - II)

* * *

E bebendo, Vida, recusamos o sólido
O nodoso, a friez-armadilha
De algum rosto sóbrio, certa voz
Que se amplia, certo olhar que condena
O nosso olhar gasoso: então, bebendo?
E respondemos lassas lérias letícias
O lusco das lagartixas, o lustrino
Das quilhas, barcas, gaivotas, drenos
E afasta-se de nós o sólido de fechado cenho.
Rejubilam-se nossas coronárias. Rejubilo-me
Na noite navegada, e rio, rio, e remendo
Meu casaco rosso tecido de açucena.
Se dedutiva e líquida, a Vida é plena.
(Alcoólicas - IV)

* * *

Te amo, Vida, líquida esteira onde me deito
Romã baba alcaçuz, teu trançado rosado
Salpicado de negro, de doçuras e iras.
Te amo, Líquida, descendo escorrida
Pela víscera, e assim esquecendo
Fomes
País
O riso solto
A dentadura etérea
Bola
Miséria.
Bebendo, Vida, invento casa, comida
E um Mais que se agiganta, um Mais
Conquistando um fulcro potente na garganta
Um látego, uma chama, um canto. Amo-me.
Embriagada. Interdita. Ama-me. Sou menos
Quando não sou líquida.
(Alcoólicas - V)
(in Do Desejo - Campinas, SP: Pontes, 1992.)

sábado, 18 de agosto de 2007

Teus olhos querem me levar
eu só quero que você me leve
eu ouço as estrelas
conspirando contra mim
eu sei que as plantas
me vigiam do jardim...

As luzes querem me ofuscar
eu só quero que essa luz me cegue
nem cinco minutos guardados dentro de cada cigarro
não há pára-brisa pra limpar, nem vidros no teu carro

O meu corpo não quer descansar
não há guarda-chuva
contra o amor...
o teu perfume quer me envenenar
minha mente gira como um ventilador

A chama do teu isqueiro quer incendiar a cidade
teus pés vão girando igual aos da porta estandarte
(...)

Eu estou no meio da rua
você está no meio de tudo
o teu relógio quer acelerar, Quer apressar os meus passos
não há pára-raio contra o que vem de baixo

Nem cinco minutos guardados - Titãs

sábado, 28 de julho de 2007

Querido Diário (Tópicos para uma semana utópica)

Cazuza

Segunda-feira:
criar a partir do feio
enfeitar o feio
atéo feio seduzir o belo

Terça-feira:
evitar mentiras meigas
enfrentar taras obscuras
amar de pau duro

Quarta-feira:
magia acima de tudo
drogas barbitúricos
I Ching
seitas macabras
o irracioonal como aceitação do universo


Quinta-feira:
olhar o mundo
com a coragem do cego
ler da tua boca as palavras
com a atenção do surdo
falar com os olhos e com as mãos
como fazem os mundos

Sexta-feira:
assunto de família:
melhor fazer as malas
e procurar uma nova
(só as mães são felizes)

Sábado:
Não adianta desperdiçar sofrimento
por quem não merece
é como escrever poemas no papel higiênico
e limpar o cu
com os sentimentos mais nobres

Domingo:
Não pisar em falso
nem nos formigueiros de domingo
amar ensina a não ser só
só fogos de São João no céu sem lua
mas reparar e não pisar em falso
nem nas moitas do metrô nos muros
e esquinas sacanas comendo a rua
porque amar ensina a ser só
lamente longe, por favor
chore sem fazer barulho

sexta-feira, 13 de julho de 2007

Não me queixo
eu não soube te amar
mas não deixo
de querer conquistar
uma coisa qualquer em você

O que será?


Caetano

sábado, 30 de junho de 2007

Enfim julho

Fiquei esperando passar
pra sarar
sarar
pra voltar
voltar pra escrever

Meu estômago doeu o dia todo
Nada parece poético o suficiente
Não me importo com clichês desde que bem plagiados
Posso contar as verdades cruas
sem romance ou penúria
Sem dizer Volta


Te deixar foi uma decisão estética
Eu engordo só de pensar em você
e de não pensar


Esse seu campo magnético se afasta
mas não perde a força
O sorriso cala se apaga até engana
mas não perde o encantamento
O nosso amor está há um passo da perfeição
há um passo bem longo


E aquela felicidade soberba?


Já estou guardando um beijo há uma semana
deixei na geladeira
não demora
meu charme tá quase acabando


Quisera eu ter um lapso de cólera fúria
Acontece que eu sempre compadeço
Suplico imploro esqueço


Não achei ainda o verso exato
nem a medida da minha vaidade
o limite entre as horas e este apartamento

ando meio assim
falando muito
dizendo pouco

É tudo bobagem

segunda-feira, 30 de abril de 2007

Mais que isso

(Ana Carolina / Chico César)

Eu não vou gostar de você porque sua cara é bonita
O amor é mais que isso
O amor talvez seja uma música que eu gostei e botei
numa fita
Eu não vou gostar de você porque você acredita
O amor é mais que isso
O amor talvez seja uma coisa que até nem sei se
precisa ser dita

Deixa de tolice, veja que eu estou aqui agora
inteiro, intenso, eterno, pronto pro momento e você
cobra
Deixa de bobagem, é claro, certo e belo como eu quero
O corpo, a alma, a calma, o sonho, o gozo, a dor e
agora pára

Será que é tão difícil aceitar o amor como é
E deixar que ele vá e nos leve pra todo lugar
Como aqui

Será melhor deixar essa nuvem passar
E você vai saber de onde vim, aonde vou
E que eu estou aqui

sexta-feira, 20 de abril de 2007

Antes

Borrei batom vermelho
pra te beijar de sangue.
Jantei cerveja
pra você sentir o gosto do meu vício.
Mas não lancei perfume sob a pele
pra você poder cheirar o cheiro do meu cio.

quinta-feira, 12 de abril de 2007

Conselho da preta velha ontem antes da aula:

"Ele foi legal.ponto.Ele foi tosco.ponto.E o todo?
...
O que você pode fazer?
Escrever.
Vai passar!"
Bél

Nega, você tem cheiro de mar.
Obrigada por voltar com toda a sua luz e audácia pra minha vida.
Sua alegria me invade!

terça-feira, 10 de abril de 2007

"AH, EU QUIS ME APAIXONAR ASSIM PERDIDAMENTE...EU ME PERDI.

UM ENGANO REDONDO
O CIÚME INTUIU MEIO TARDE DE MAIS"
Adriana Calcanhotto
Você não tem medo de mim
você não tem medo de mim
você tem medo é do amor
que você guarda para mim
Você não tem medo de mim
você não tem medo de mim
você tem medo é de você
você tem medo é de querer
Me amar
Péricles Cavalcanti

sexta-feira, 6 de abril de 2007

A espera

Aí, ela ficou pensando que o amor é esperar.
Essa agonia das horas sem fim.
Amanhã, semana que vem, agosto, setembro, inverno, tudo longe de mais.
Perder o sono. Peder os dias.
E o medo é o mesmo de antes, um medo doído...
Esquecer e esperar.
Cada minuto custando uma eternidade.
Cada música fazendo sangrar um pouco mais.
Não ter resposta pra nada.
Enfiar os pés pelas mãos, ser ingênuo.

Eu queria reger o relógio do mundo.
Vou aceitar, vou chorar, vou rezar.
Enquanto a saudade não me deixa em paz.
Eu queria reger o relógio do mundo.
Pra poder prender num frasco de geléia o nosso último instante.
Tudo bem, eu espero. Pelo menos a espera já é amor.
Mas não vou jogar a minha pressa toda pela janela. Vou guardar.
Pra te mostrar tudo. Depois da espera.
Pra quê fechar os olhos?
Se essa noite em que não te tenho é mais longa que a vida.

Abril de 2007, sexta-feira da paixão

quinta-feira, 5 de abril de 2007

"Uns tomam éter, outros cocaína. Eu já tomei tristeza, hoje tomo alegria." BANDEIRA

BARATO TOTAL

"Quando a gente tá contente
tanto faz o quente
tanto faz o frio
tanto faz
que eu me esqueça do meu compromisso
com isso e aquilo que aconteceu há dez minutos atrás

Dez minutos atrás de uma idéia já dão
pra uma teia de aranha crescer
e prender
sua vida na cadeia do pensamento
que de um momento pro outro
começa a doer

Quando a gente está contente
gente é gente, gato é gato
barata pode ser um barato total
tudo o que você disser deve fazer bem
nada que você comer deve fazer mal

Quando a gente está contente
nem pensar que está contente
nem pensar que está contente a gente quer

Nem pensar a gente quer..."

Gilberto Gil

terça-feira, 3 de abril de 2007

Ingenuidade do caramba!

Hoje eu acordei com vontade d'um poema bem punk, bem down, bem mau...

TRECHOS DOS VERSOS MAIS SINCEROS...QUE EU NÃO ESCREVI:

'Eu te dei todas as coisas
Mas te perdi
Você se parece com todo mundo
Você chora e fede
Como todo mundo
Você mente e esconde
Eu te mostrei vários amores
Mas eu te perdi
Mas me esqueci
Que todo mundo ama
Exagera tudo
Você se parece com todo mundo'

'Eu queria ter uma bomba
para poder me livrar
Do prático efeito
Das tuas frases feitas
Das tuas noites perfeitas
Eu queria ter uma bomba'

'O teu amor é uma mentira
Que a minha vaidade quer
E o meu, poesia de cego
Você não pode ver
Mas ficou tudo fora do lugar'

'Hoje eu acordei querendo encrenca
Tive idéias perversas'

'Vê se ao menos me engole
mas não me mastiga assim

Por que a gente é assim?'

Cazuza


'Você não passa da minha boneca Susie(...)Vou sugar todo você em um maço...vou nicotizar seu corpo inteiro.Tua boca de plástico vai derreter na ponta do meu cigarro..Seus olhos vão sangrar com minha fumaça..Minha língua vai percorrer todo seu lodo..E depois vou cuspir na tua cara...
Esses teus olhos de vidro de janela quebrada..'

Aysha Santiago


'Ingenuidade do caramba!'

Mayara Matos

sábado, 31 de março de 2007

DIVINO

Deixa-me contemplar em silêncio o templo do teu corpo!
Deixa-me gozar da paz absoluta de repousar em teu templo santo!
Enquanto minh'alma reza veemente pela salvação,
permaneço nessa adoração contínua e sublime.
Ungida pela benção pagã das tuas mãos,
a comunhão liberta os meus sentidos com a virulência típica do transe.
Ainda em êxtase, regozijo-me secretamente, imovelmente por esta celebração.
Ademais, resta o dia e os outros pecados.
Aqui dentro, como um ritual, o meu templo coabita o teu.
Começo a amanhecer...quanta luz, muito forte.
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Toda luz emana de você!

março, 2007
Maçã de Adão, Toonman.


LEMBRANÇAS

Sinto meu corpo febril nas noites.
Tudo jogado
largado
no leito
tudo lateja
quente

Lembro seu gosto nas coxas trêmulas.
Suor jorrando feito água
limpa
das costas
quentes


sua perna entre minhas pernas
vítimas do milagre
encaixam-se
harmônicas

uma mão ardente
pousa
no ventre fértil
concedente

um toque
o mais sutil de todos
passeia
na nascente
dos desejos:
é a língua
roçando
no seio
que bate
no rítimo
do seu querer
e do meu querer
desesperado

fevereiro, 2007
ACUSAÇÃO

-Não tem rima, não tem métrica, não é belo, tem apenas uma queixa:

Não me venha com mentiras
confio na minha intuição
não posso me trair
embora tenha tentado
exaustivamente

Você ofendeu as minhas boas intenções
você quase me fez acreditar

Diga que é sincero
peça desculpas
mude de conduta
chega!
não me esconda o jogo
minta!
pra dizer o que eu quero ouvir
você me confunde
repita as promessas
não faça promessas

melhor você se redimir
melhor começar a pagar
vá penando
enquanto eu vou pensando
numa maneira de te perdoar.

Janeiro, 2007
CEGUEIRA

Você nunca vai ler o meu poema
não vou deixar, não vou deixar!

Você nunca vai saber
o quanto é bonito
oque eu sinto

Você nunca vai entender
uma palavra do que eu digo

pois, a sua estupidez,
meu bem,
lhe cega!

12 de Janeiro, 2007

O grito, Edvard Munch - 1893
VISLUMBRE

O amor devia ser uma tarde verde
ensolarada
abandonados na grama
o som das risadas
invadindo o espaço

e o vento
intruso
espiando debaixo da saia

a aguá jorrando das bocas
que não mais ardem
beijam.

Janeiro, também chuvoso, 2007.

Giardino Fiorito, Van Gogh - 1888




SOBERBO

A felicidade é uma coisa soberba.
Tanto,
que parece que vou explodir
em gritos
de gozos
e risos

a cada minuto
que olho seus olhos
cegos
e mudos.

Enigma é você,
mas quero que me desvendes

dezembro chuvoso de 2006